quarta-feira, 6 de junho de 2012

Congada
  
  O congado ( ou congada ) é uma manifestação cultural e religiosa de influência africana celebrada em algumas regiões do Brasil.
  Trata basicamente de três temas em seu enredo: a vida de São Benedito, o encontro de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas, e a representação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras.




Lenda


  A lenda de Chico Rei revela que a origem das festas do Congado está ligada à igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Segundo a lenda, Francisco, escravo batizado com o nome de Chico-Rei, era imperador do Congo e veio para Minas Gerais com mais de 400 negros escravos.
  Na sofrida viagem, Francisco perdera a mulher e os seus filhos,sobrevivendo apenas um. Chico Rei instalou-se em Vila-Rica, trabalhou nas minas e somando o trabalho de domingos e dias santos, conseguiu realizar a economia necessária para comprar a sua alforria e a do filho. Chico Rei dançou na igreja para comemorar a alforria.
  Posteriormente, obteve a alforria de seus súditos de nação e adquiriram a mina da Escandideira. Casou-se com uma nova rainha e o prestígio do “rei preto” foi crescendo.
  Organizaram a irmandade do Rosário e Santa Efigênia e construíram a igreja do alto da santa cruz. Por ocasião da festa dos Reis Magos,em janeiro,e na de Nossa Senhora do Rosário,em outubro, havia grandes solenidades generalizadas com o nome de “Reisados”.


História

 Surgida no Brasil com a vinda forçada de povos africanos de origem banto, oriundos das regiões do Congo (daí o nome congada), Moçambique, Angola, entre outras, a congada é uma manifestação característica da cultura afro-brasileira, que encontrou no sincretismo religioso um meio de resistir ao domínio e à imposição etnocêntrica dos valores culturais e religiosos do homem branco. Com expressões como a congada, os povos negros africanos sustentaram sua fé e sua cultura com a manutenção de seus rituais religiosos e culturais.

       
Festas

 As festas de Reinado no Brasil com devoção a santos negros, como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, são tradições mantidas em diversas localidades, com destaque para Minas Gerais, São Paulo e Goiás, porém existem grupos do Rio Grande do Sul até o Pará, mesmo que isolados, mas que conseguiram resistir e reinventaram-se no mundo de hoje e ainda comemoram suas festas, como no interior do Pará, na Vila da Juaba em Cametá-PA, o Bambaê do Rosário ou em Sergipe com os Cacumbis, Cheganças e Taiera, que mantem uma tradição muito bonita de Coroação, procissão e embaixadas, e ainda em muitas outras localidades. Historicamente, sua origem remonta ao Brasil colonial, existem irmandades de quase 300 anos de existência, com certeza essa é uma das tradições mais antigas em atividade no nosso país,além disso esta´presente na quase totalidade de nosso País, realmente precisamos olhar como mais atenção para essa tradição. Uma das fundamentações míticas do Congado, nesse caso em Minas Gerais diz que as guardas se formaram, quando uma imagem de Nossa Senhora do Rosário apareceu no mar. O grupo do Congo se dirigiu para a areia tocando seus instrumentos, só conseguiu fazer com que a imagem se movesse uma vez: Nossa Senhora se encaminhou para a frente e parou. Então vieram negros moçam biqueiros, batendo seus tambores, cantando para a santa e pedindo-lhe que viesse protegê-los.

 
Contexto Musical

   Tanto as músicas quanto as danças são permeadas de expressões da língua bantu e por memórias de etnias e guerras africanas e seus personagens. Entre as memórias está a batalha de Massangana, que opuseram portugueses a holandeses pelo controle do tráfico escravo em Angola.
   No decorrer do espetáculo sucedem-se diferentes coreografias e músicas, certas passagens caracterizam-se por uma notável simultaneidade de eventos. Enquanto do lado de Cima - Príncipe, Secretário, Cacique e Fidalgos dançam, fazem coreografias de agradecimentos a São Benedito, do lado de Baixo - Embaixador e Congos dançam, batem espadas, fazem coreografias e entoam cantos de guerra.
(...) “cantemos jardim das flores... Prepara, prepara minha gente boa, temos guerra declarada, guerra contra a coroa...” (...).
   As músicas dessa dança dramática acompanham freqüentemente o sentido dos textos poéticos e buscam descrevê-lo musicalmente. Essa constatação de ordem geral não exclui, evidentemente, a existência de cantos legitimamente afro-brasileiros no seu espírito e estrutura, com peças bem aparentadas à melodia da região caipira do Brasil.
(...) “Tão triste que viemos tão alegres que vortamo
Vai o artoEmbaixadô aos pés do Rei chorando...” (...)
(Canto entoado pelos fidalgos, no momento da prisão do Embaixador)


O vídeo abaixo apresenta uma música típica das congadas : 


Instrumentos

Todos os instrumentos utilizados na Congada do Bairro São Francisco são originados do artesanato folclórico – a Marimba e os dois atabaques ou tambaques, como dizem os caiçaras.
 - Marimba: peça artesanal de mais de 180 anos, de origem étnica Bantu, é o principal instrumento da Congada. As madeiras utilizadas nas tabuletas são oriundas da Mata Atlântica
O guaracipó é apoiado nas pernas do tocador, que executa o toque do instrumento sempre sentado, tendo a marimba fixada à sua nuca por meio de um cordão preso nas laterais do instrumento. As teclas são acionadas por duas baquetas roliças, com pontas arredondadas.
Atualmente este instrumento, é encontrado nas Congadas de Ilhabela e São Francisco.
 -Atabaques: também chamados de tambaques, são feitos de tronco, numa só peça, e são usados uma na função de surdo e o outro na função de repique.
   Na formação da Congada, esses instrumentos são colocados tradicionalmente atrás do Rei de Congo. 


Vestimentas

As roupas ou vestimentas dos Congadeiros também fazem parte do repertório da dramaturgia, ou seja, o colorido reforça a beleza da dança. As espadas também ganham destaque, simbolizando o poder.
- Vestimenta azul: utilizada pelos Fidalgos do Rei de Congo (lado de Cima), representando os cristãos.
- Vestimenta Vermelha e branca: utilizada pelos Congos do Embaixador (lado de Baixo), representando os mouros (não batizados).
- Capas: na sua maioria coloridas (floridas), amarrada às costas dos Congadeiros, é utilizada como acessório do soldado do Congo. Geralmente ela é jogada para os lados, e associando-se aos pulos e coreografias com as espadas, resultando no popular “dançar trocado”.
- Chapéu: juntamente com as vestimentas, ganham destaque por serem decorados com penas e miçangas dando um toque a mais no espetáculo.
- Espadas: é uma arma de combate, que após o perdão dado ao Embaixador, torna-se um instrumento de grande destaque nas coreografias. A espada desembainhada simboliza Poder.
- Coração: uma peça curiosa da indumentária dos Congos é o coração, e provavelmente a Congada do Bairro São Francisco é a única do Estado de São Paulo que utiliza este tipo de adereço. Ele tem por tradição ser ornamentado cada um no seu estilo, ou seja, cada congo teu seu coração de sua maneira, ora com miçangas, broches, escapulários, fitas e outros adornos, tornando-se um espetáculo à parte na vestimenta do congadeiro.
- Lenço Branco: utilizado pelos congos do Embaixador no fim da apresentação. Representa a paz firmada entre os povos.


Aspectos simbólicos

Os congos ou congadeiros, para a representação, são divididos em dois grupos:
- Congos de Cima: compreendem os Fidalgos ou Vassalos, juntos com seu Rei, considerados cristãos. Os Fidalgos são 08, mas há ocasiões que apresentam um número maior.
- Congos de Baixo: chamados de Congos do Embaixador são os não batizados, pagãos, mouros ou infiéis. A Congada do Bairro de São Francisco possui organização fixa e permanente. As figuras principais são: Rei, Embaixador e Secretário. Não possui Rainha devido à tradição antiga. Os congos apresentam-se em fileiras de dois, com frente para o Rei, guardando certa distância do Embaixador.
Ao lado os Fidalgos, trajando roupas em que predomina a cor azul, encabeçam as filas o Príncipe
e o Secretário, tidos como filhos do Rei. No final de uma das filas, fica o Cacique de Cima, que é um personagem em ascensão.










 A congada é uma arte ?
    
  Podemos considerar que não só a Congada do Bairro São Francisco, mas todos os movimentos afro-brasileiros que desempenham um papel artístico de propagação de sua cultura através dos tempos são considerados arte. Mais precisamente a nossa Congada que possui aproximadamente um século e meio de existência, mantendo as falas, a dança, a música, as vestimentas (ou fantasias) e a representação originais, observando neste contexto a influência do complexo mouro-cristão do livro de Carlos Magno e os Doze Pares de França.
  É evidente que a ação da modernidade, somado ao movimento imigratório em nossa região, fez da Congada de hoje, um movimento diferenciado, mas que têm nas raízes caiçaras a permanência da tradição afro-brasileira.


Curiosidades

A telenovela "Cordel encantado", exibida na rede Globo, mostra, além de outras representações, a Congada :


Referências

- http://www.sitiosaofrancisco.org.br/modules/parceiros/item.php?itemid=1
     - http://educacao.uol.com.br/cultura-brasileira/congada-   festa-folclorica-une-tradicoes-africanas-e-ibericas.jhtm